03 janeiro 2010

mes amis?

Sempre tive muitas companhias, desde cedo. No colégio, eu e minha irmã gêmea, passando por aproximadamente dez instutuições de educação diferentes, invariavelmente tivemos de fazer, para em seguida desfazer laços de amizade com penar, pois, logo após o apego, viria o desapego. Outro agravante foi o fato de meus pais nutrirem um medo absurdo de sermos roubadas, estupradas, aprendermos coisas que nao prestavam (como se um dia isso não fosse acontecer - aprender o que não presta!), morrermos afogadas como saía no jornal, enfim, "n" motivos para nos isolar da comunidade "amiguística".
Então adquiri o dom de não apegar-me.
E com o desenvolvimento desse dom através dos anos, me apaixonei e desapaixonei num ímpeto de volubilidade constante que dura até hoje.
Naturalmente, chega um momento da vida que fazemos um balanço de atitudes, amizades, acontecimentos e nenhum momento é melhor do que a transição de um ano para o outro.
Tentei buscar fatos que explicassem esse comportamento, se ele era válido de alguma forma e não uma relação parasitária, na qual eu sugava o que tinha para sugar da relação e a descartava assim que perdia o interesse ou o interessante não existisse mais.
Explicarme-ei: Cada pessoa tem uma quantidade de informação útil ao nosso (meu) crescimento. Sendo assim quando essa porção acaba (mesmo que momentaneamente), temos que sair em busca de outras coisas, pessoas, conteúdos, para que cresçamos e continuemos numa escala positiva de evolução.
Algumas pessoas entendem essa prática, outras acham que a amizade acabou, quando na verdade, os dois elementos dessa química foram apenas atrás de coisas novas, para, quem sabe, ao reencontrarem-se possuam combustível para nutrir a relação, sabendo que mudaram com essas novas buscas, mas a essência que formou o laço que une os indivíduos permanece a mesma e, portanto, a afeição recíproca entre estes entes queridos pode ser retomada.
Talvez por esse modo de agir eu seja muito mal interpretada. Sou uma pessoa intensa. Tenho tendência a criar intimidade com pessoas que eu acabei de conhecer e falar sobre tudo, afinal, não sei quanto tempo durará essa troca (vai que não temos nada a acrescentar um ao outro, aí dura pouco). Procuro fazer desse momento o mais produtivo possível (sou prática mesmo), então, falo e gesticulo muito, pergunto, olho com aquela cara curiosa de criança esperando o quê de tao extraordinário o adulto tem a mostrar para que ela aprenda algo novo.
Não vou citar as inúmeras percepções que tenho das pessoas que me conhecem a mais tempo e geralmente morrem de ciúme/posse/vergonha alheia, ou das que sequer me viram uma única vez e não aceitam/concordam/estão acostumadas com minha maneira de relacionar-me.
O fato é que esses seres ficam me olhando com cara de espanto, quando resistem. Quando não resistem me chamam em outro momento/lugar para fazer a crítica. Quando se rasgam de incompreensão rola um beliscão por debaixo da mesa ou mesmo uma chamada no canto.
Hilário. Pra mim, claro.
Enfim, essa minha mania de exaurir minhas relações gera muita polêmica. Acho que ela se estende aos namoros também.
Por isso sempre procurei estar perto de pessoas que falam, escrevem, ou pelo menos pensem algo de absurdamente diferente, criativo, inovador.
Talvez por isso eu não tenha amigos de infância que convivam constantemente comigo. Amo os amigos que adquiri ao longo dessa minha curta vida, mas não fico co-vivendo ou co-habitando por muito tempo com alguém e creio que isso, inclusive, seja bondade da minha parte. Sabe aquele conceito de viver e deixar viver? Pois é.
Encontro os que partilharam de parte importante da minha vida e seguiram seu caminho. Mudaram, melhoraram, cresceram (ou não)...
Sem mágoa, sem ressentimento, sem o sentimento inferior do brinquedo velho largado por aquele novo que foi ganhado no natal.
A troca é muito mais rica para quem aceita o curso natural de que as pessoas vêm e vão de nossa existência, sem serem mais ou menos importantes pela duração da aliança, mas com a certeza de que viveram intensamente aquele que pode ter sido um curto tempo, sendo o mais produtivos/úteis possível.
Percebi que não tenho melhores amigos, mas meus amigos são os melhores, mesmo com toda essa permutação frenética de conteúdo, mesmo que no auge do meu isolamento para análise eu de fato não pertença a grupo algum.