21 setembro 2009

Oração de 21 de setembro

Ando tentando achar uma maneira de amar incondicionalmente as pessoas e ainda não encontrei.
Escrever não é um meio de encontrar uma resposta, mas de desabafar mesmo.
Tenho buscado insistentemente meios de tornar-me um vidro; o sol bate e passa sem que ele mude suas características, no máximo reflete em alguns momentos, mas passa ileso às transformações climáticas aceitáveis (leia-se: nada muito absurdo), mas parece provação, coisa cármica mesmo!
É uma ingratidão, o zodíaco dizendo que o possuidor daquele determinado signo é genioso, de personalidade forte, ou mesmo alguém que considera o que é importante pra mim a coisa mais boba e atropelável.
É como se eu sempre estivesse entendendo o modo das pessoas demonstrarem amor, mas constantemente submetendo-me ao "não-entendimento" delas para com a minha forma de transbordar o meu.
Intimamente reformo-me para adequar-me ao método que acho necessário para enfrentar minha evolução e acabo por encontrar com paradoxos e questionamentos intermináveis de como deveria conduzir esta ou aquela situação.
Desejo exercer um dia com clareza e sublimação todos os valores que um dia, inclusive hoje, disse acreditar.
Almejo no âmago da caixa de minhas vontades mais entranhadas ter maturidade suficiente para enfrentar e aprender (!) com as intempéries que um dia ousei implorar para encontrar na trajetória dessa vida.
Amém!

O Amor

E alguém disse:
Fala-nos do Amor:

- Quando o amor vos fizer sinal, segui-o;
ainda que os seus caminhos sejam duros e difíceis.
E quando as suas asas vos envolverem, entregai-vos;
ainda que a espada escondida na sua plumagem
vos possa ferir.

E quando vos falar, acreditai nele;
apesar de a sua voz
poder quebrar os vossos sonhos
como o vento norte ao sacudir os jardins.

Porque assim como o vosso amor
vos engrandece, também deve crucificar-vos
E assim como se eleva à vossa altura
e acaricia os ramos mais frágeis
que tremem ao sol,
também penetrará até às raízes
sacudindo o seu apego à terra.

Como braçadas de trigo vos leva.
Malha-vos até ficardes nus.
Passa-vos pelo crivo
para vos livrar do joio.
Mói-vos até à brancura.
Amassa-vos até ficardes maleáveis.

Então entrega-vos ao seu fogo,
para poderdes ser
o pão sagrado no festim de Deus.

Tudo isto vos fará o amor,
para poderdes conhecer os segredos
do vosso coração,
e por este conhecimento vos tornardes
o coração da Vida.

Mas, se no vosso medo,
buscais apenas a paz do amor,
o prazer do amor,
então mais vale cobrir a nudez
e sair do campo do amor,
a caminho do mundo sem estações,
onde podereis rir,
mas nunca todos os vossos risos,
e chorar,
mas nunca todas as vossas lágrimas.

O amor só dá de si mesmo,
e só recebe de si mesmo.

O amor não possui
nem quer ser possuído.

Porque o amor basta ao amor.

E não penseis
que podeis guiar o curso do amor;
porque o amor, se vos escolher,
marcará ele o vosso curso.

O amor não tem outro desejo
senão consumar-se.

Mas se amarem e tiverem desejos,
deverão se estes:
Fundir-se e ser um regato corrente
a cantar a sua melodia à noite.

Conhecer a dor da excessiva ternura.
Ser ferido pela própria inteligência do amor,
e sangrar de bom grado e alegremente.

Acordar de manhã com o coração cheio
e agradecer outro dia de amor.

Descansar ao meio dia
e meditar no êxtase do amor.

Voltar a casa ao crepúsculo
e adormecer tendo no coração
uma prece pelo bem amado,
e na boca, um canto de louvor.
Khalil Gibran